quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mais do Mesmo

É claro que com o pequeno artigo da semana passada não deu para se compreender todos os fatores que originaram a crise econômica. Sendo assim, essa semana, prefiro retirar do site VERMELHO.ORG.BR, uma  parte da entrevista com Walden Bello professor de ciências políticas e sociais na Universidade das Filipinas (Manila);  membro do Transnational Institute de Amsterdam, presidente de Freedom from Debt Coalition, e analista senior no Focus on the Global South, que me foi muito esclarecedora.

Tudo o que você quer saber sobre a crise e teme não entender

O pior já passou?


Não. Se algo ficou claro com os movimentos contraditórios destas semanas em que, enquanto se permitia à quebra do Lehman Brothers, a AIG foi nacionalizada e o Bank of America assumiu o controle da Merril Lynch, isto significa que não há uma estratégia para enfrentar a crise; não há respostas táticas, como bombeiros que pisam na mangueira, atrapalhados com a magnitude do incêndio. O resgate de 700 bilhões de dólares [Este artigo foi escrito antes da aprovação final do pacote de salvamento dos banqueiros que, afinal, chegou a 850 bilhões - nota da redação] dos títulos com garantia hipotecária em poder dos bancos não é uma estratégia, mas, basicamente, um esforço desesperado para restaurar a confiança no sistema. Para evitar a erosão da fé nos bancos e outras instituições financeiras, e para evitar uma corrida para a retirada dos fundos dos bancos como a que desencadeou a Grande Depressão de 1929.


O que causou o colapso do centro nevrálgico do capitalismo global? Foi a ganância?


A velha e venerada ganância teve sua parte. A isto se referia Klaus Schwab, o organizador do Fórum Econômico Mundial, o convescote da elite global celebrado anualmente nos Alpes suíços, quando disse para sua clientela em Davos este ano: ''Temos que pagar pelos pecados do passado''.



Foi um caso de desregulamentação, de xerife pego cometendo um crime?


Pois é. Os especuladores financeiros tanto fizeram que até se confundiram a si próprios com a criação de contratos financeiros cada vez mais complexos, como os derivativos, tratando de ganhar dinheiro a partir de todo tipo de riscos (incluindo os exóticos instrumentos futuros), como CREDITS default swaps ou contratos de proteção de derivativos creditícios, que permitiam aos investidores apostar, por exemplo, que os emprestadores da própria corporação bancária não seriam capazes de pagar seus empréstimos! Este foi o comércio multibilionário não regulado que acabou derrubando a AIG. Em 17 de dezembro de 2005, quando a International Financing Review (IFR) anunciou seus prêmios do ano - um dos programas de prêmios mais prestigiados do setor - escreveu:


''Lehman Brothers não só manteve sua presença global no mercado, mas também dirigiu a penetração no espaço de preferência... desenvolvendo novos produtos e desenhando transações capazes de atender às necessidades dos mutuários... Lehman Brothers é o mais inovador nesse espaço justamente por fazer coisas que não se pode ver em nenhum outro lugar''. Nem é preciso comentar...


Houve falta de regulamentação?


Sim. Todo mundo reconhece agora que a capacidade de Wall Street para inovar e imaginar instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados foi muito além da capacidade reguladora do Estado, e não porque o Estado não fosse capaz de regular, mas porque a atitude neoliberal, de laissez-faire, imperante impediu ao Estado criar mecanismos efetivos de regulação.


Mas não há nada mais? Não há nada sistêmico?


Bem, George Soros disse que o que estamos vivendo é uma crise do sistema financeiro, uma crise do ''gigantesco sistema circulatório'' de um ''sistema capitalista global... que está arrebentando pelas costuras''. Para ficar com a idéia do arquiespeculador, o que estamos assistindo é a intensificação de uma das crises ou contradições centrais do capitalismo global, que é a crise de superprodução, também conhecida como superacumulação.


Diz respeito à tendência do capitalismo de construir uma enorme capacidade produtiva que termina por rebaixar a capacidade de consumo da população devido às desigualdades que limitam o poder de compra popular, e isso acaba por erodir as taxas de lucro.



 

Mas o que a crise de superprodução tem a ver com os acontecimentos recentes?


Muitíssimo. Mas, para entender a conexão, temos que voltar para a chamada Era Dourada do capitalismo contemporâneo, o período que vai de 1945 a 1975. Foi um período de rápido crescimento, tanto nas economias centrais como nas subdesenvolvidas, um crescimento impulsionado, em parte, pela massiva reconstrução da Europa e do Leste asiático após a devastação da Segunda Guerra Mundial, e em parte, pela nova configuração sócio-econômica institucionalizada sob o novo estado keynesiano. Um aspecto chave foram, aqui, os severos controles estatais da atividade de mercado, o uso agressivo de políticas fiscais e monetárias para minimizar a inflação e a recessão, bem como um regime de salários relativamente altos para estimular e manter a demanda.


O que aconteceu, então?


Bem, este período de elevado crescimento terminou em meados dos anos 1970, quando as economias do centro se viram imersas na estagflação, isto é, na coexistência de um baixo crescimento com uma inflação alta - o que a teoria econômica neoclássica supunha que fosse impossível. Contudo, a estagflação não era senão o sintoma de uma causa mais profunda, a saber: a reconstrução da Alemanha e do Japão, assim como o rápido crescimento de economias em vias de industrialização, como Brasil, Taiwan e Coréia do Sul, adicionou uma enorme capacidade produtiva e incrementou a concorrência global, enquanto que a desigualdade social, dentro de cada país, e entre os países, limitou globalmente o incremento do poder aquisitivo e da demanda, do que resultou a erosão da taxa de lucros. A drástica subida do preço do petróleo nos anos 70 só agravou a situação.


Como o capitalismo tratou de resolver a crise de superprodução?


O capital ensaiou três vias de saída do atoleiro: a reestruturação neoliberal, a globalização e a financeirização.


Em que constituiu a reestruturação neoliberal?


A reestruturação neoliberal tomou a forma do reaganismo e do thatcherismo no Norte e do ajuste estrutural no Sul. O objetivo era a revigorarão da acumulação de capital, o que se conseguiu: 1) removendo as restrições estatais ao crescimento, ao uso e ao fluxo de capitais e de riqueza; 2) redistribuindo a renda das classes pobres e médias aos ricos, de acordo com a teoria de que assim se motivaria aos ricos para investir e alimentar o crescimento econômico. O problema desta fórmula era que, ao redistribuir a renda em favor dos ricos, se estrangulava a renda dos pobres e das classes médias, e isso provocava a restrição da demanda, sem necessariamente induzir aos ricos a investir mais na produção.


De fato, a reestruturação neoliberal, que se generalizou no Norte e no Sul durante os anos 80 e 90, teve alguns escassos registros em termos de crescimento. O crescimento  global médio foi de 1,1% nos anos 90 e de uns 1,4% nos anos 80, enquanto que nos anos 60 e 70, quando as políticas intervencionistas eram dominantes, foi respectivamente de 3,5% e de 2,54%. A reestruturação neoliberal não pode colocar um fim à estagflação.

Em que medida a globalização foi uma resposta para a crise?


A segunda via de escapa global ensaiada pelo capital para enfrentar a estagflação foi a ''acumulação extensiva'' ou globalização, isto é, a rápida integração das zonas semicapitalistas, não-capitalistas e precapitalistas à economia global de mercado. Rosa Luxemburg, a celebrada economista e revolucionária alemã, observou este mecanismo há muito tempo, vendo-o como um mecanismo necessário para restaurar a taxa de lucro nas economias metropolitanas. Como? Ganhando acesso ao trabalho barato; ganhando mercados, mesmo que limitados, novos; ganhando novas fontes de produtos agrícolas e de matérias primas baratas; e criando novas áreas para investimento em infra-estrutura. A integração se produz através da liberalização do comércio, removendo os obstáculos para a mobilidade do capital e abolindo as fronteiras para o investimento estrangeiro.


A China, não é preciso dizer, é o caso mais destacado de uma área não capitalista integrada na economia capitalista global nos últimos 25 anos.


Para neutralizar seus lucros declinantes, um considerável número de corporações empresariais situadas entre as primeiras 500 do ranking da revista Fortune mudou parte significativa de suas operações para a China, para aproveitar as vantagens do chamado ''preço chinês'' ( as vantagens derivadas do custo barato do trabalho chinês parecem inesgotáveis). A meados da primeira década do século 21, entre 40 e 50 por cento dos lucros das corporações estadunidenses vinham de suas operações e vendas no exterior, e principalmente, na China.


Por que a globalização não pode superar a crise?


O problema desta via de saída para a estagnação é que ela exacerba o problema da superprodução, porque acrescenta capacidade produtiva. A China dos últimos 25 anos acrescentou um tremendo volume de capacidade manufatureira, o que teve o efeito de deprimir os preços e os lucros. Não por acaso, os lucros das corporações estadunidenses deixaram de crescer desde 1997. De acordo com um índice estatístico, as taxas de lucro das 500 maiores, da Fortune, passou de 7,15% em 1960-69 para 5,30% em 1980-90, para 2,29% em 1990-99 e para 1,32% em 2000-2002. Dados as limitados ganhos obtidos, que fossem capazes de conter o impacto depressivo da superprodução, seja pela reestruturação neoliberal, ou pela globalização, a terceira via de saída tornou-se vital para manter e elevar a rentabilidade. Esta terceira via é a financeirização. No mundo ideal da teoria econômica neoclássica, o sistema financeiro é o mecanismo graças ao qual os poupadores, ou quem se ache na posse de fundos excedentes, se juntam aos empresários que precisam de seus fundos para investir na produção. No mundo real do capitalismo tardio, com o investimento na indústria e na agricultura alcançando magros lucros por causa da superprodução, grandes quantidades de fundos excedentes circulam e são investidos e reinvestidos no setor financeiro. Isto é, o sistema financeiro gira sobre si mesmo.


O resultado é que se alarga o hiato aberto entre uma economia financeira hiperativa e uma economia real em estagnação. Como bem observou um executivo financeiro: ''tem havido uma crescente desconexão entre a economia real e a economia financeira nestes últimos anos. A economia real cresceu, mas nada comparável à economia financeira... até que estourou''. O que este observador não disse é que a desconexão entre a economia real e a economia financeira não é acidental: que a economia financeira disparou precisamente para fazer frente à estagnação originada da superprodução da economia real.


Quais foram os problemas da financeirização como via de saída para a estagnação?


O problema de investir em operações do setor financeiro é que equivale a exprimir valor a partir de valor já criado.  Pode trazer ganhos, é certo, mas não cria valor novo - só a indústria, a agricultura, o comércio e os serviços criam valor novo. Uma vez que os lucros não se baseiam na criação de valor novo, ou agregado, as operações de investimento acabam sendo extremamente voláteis, e os preços das ações, as obrigações e outras formas de investimento podem chegar a divergir radicalmente de seu valor real. Por exemplo: as ações de empresas emergentes da Internet, que se mantiveram em alta por algum tempo, sustentadas principalmente por valorizações financeiras em espiral, para logo cair. Os lucros dependem, então, do aproveitamento das vantagens oferecidas pelos movimentos de preços que jogam para cima o valor das mercadorias, para vender oportunamente antes que a realidade force a ''correção'' para baixo, para ajustar aos valores reais. Esta alta radical dos preços de um ativo, muito além dos valores reais, é o que se chama de bolha.



 

Porque a financeirização é tão volátil?


Com a rentabilidade dependendo de golpes especulativos, não é surpreendente que o setor financeiro vá de bolha em bolha, ou de uma mania especulativa para outra.


Assim, sustentado por uma mania especulativa, o capitalismo induzido financeiramente não deixou de registrar crises financeiras desde que os mercados de capitais foram desregulados e liberalizados nos anos 80. Antes da atual queda Wall Street, as crises mais explosivas foram a mexicana de 1994-95, a crise financeira asiática de 1997-1998, a crise financeira russa de 1996, o colapso do mercado de valores de Wall Street em 2001 e colapso financeiro argentino de 2002. O antigo secretário do Tesouro de Bill Clinton, um homem de Wall Street – Robert Rubin —, predisse há cinco anos que ''as crises financeiras futuras serão, quase com toda certeza, inevitáveis, e poderão chegar a ser piores''.


Como se forma, crescem e estouram as bolhas?


Vamos tomar como exemplo a crise financeira asiática de 1997-1998: 

  • Primeiro: balança de pagamentos e liberalização financeira impostos pelo FMI e pelo Departamento do Tesouro dos EUA.
  • Depois, entrada de fundos estrangeiros em busca de rentabilidade rápida e elevada, o que significa que entraram no mercado imobiliário e nas bolsas de valores.
  • Superinvestimento, o que levou à queda dos preços no mercado de valores e no mercado imobiliário, o que, por sua vez, conduziu ao pânico e à conseqüente retirada dos fundos: em 1997, em poucas semanas, 100 bilhões de dólares abandonaram as economias do leste asiático.
  • Resgate dos especuladores estrangeiros por parte do FMI.
  • Colapso da economia real: a recessão se estende por todo o Leste asiático em 1998.
  • Apesar da desestabilização em grande escala, todas as tentativas feitas para impor regulações nacionais ou globais do sistema financeiro foram rejeitadas com razões puramente ideológicas.


Voltemos à presente bolha. Como se formou?


O atual colapso de Wall Street está enraizado na bolha tecnológica do final dos anos 90, quando o preço das ações das empresas emergentes no mundo da Internet disparou, para cair logo em seguida, levando à perda de ativos no valor de 7 trilhões de dólares e à recessão de 2001-2002. As frouxas políticas monetárias da Reserva Federal sob Alan Greenspan estimularam a bolha tecnológica, e quando esta entrou em colapso levando à recessão, Greenspan, para evitar uma recessão duradoura, em junho de 2003 baixou as taxas de juros para um nível sem precedentes em 45 anos (a 1%), mantendo este nível durante mais de um ano. E, com isso, o que conseguiu foi estimular a formação de outra bolha, a bolha imobiliária. Já em 2002, economistas como Dean Baker, do Center for Economic Policy Research, alertaram sobre a formação de uma bolha imobiliária. Mais tarde, em 2005, o então presidente do Conselho Econômico de assessores da Presidência dos EUA, e atual presidente da Reserva Federal, Bern Bernanke, atribuía o aumento dos preços das residências, nos EUA, a ''uns fundamentos econômicos robustos'', e não à atividade especulativa. A quem pode surpreender que o estouro da crise dos subprime no verão tenha pego este homenzinho com a guarda totalmente baixa?

E como ela cresceu?


Ouçamos da boca de um dos próprios jogadores chave nos mercados, de George Soros: ''As instituições hipotecárias incentivaram aos hipotecados refinanciarem suas hipotecas aproveitando a revalorização de suas casas. Rebaixaram seus critérios de empréstimos e introduziram novos produtos, como hipotecas com juros variáveis, como hipotecas que 'só rendiam juros' e 'ofertas promocionais' com taxas de juros de causar risos. Tudo isso incentivou a especulação com as moradias. Os preços das casas começaram a subir ao ritmo de dois dígitos. Isto serviu para retroalimentar a especulação, e a alta dos preços imobiliários fez com que os proprietários das casas se sentissem ricos; o resultado foi o boom consumista que sustentou a economia nestes últimos anos.''


Observando as coisas mais de perto, pode-se ver que a crise hipotecária não foi resultado de uma oferta maior do que a procura real. A ''procura'' estava, há muito, fabricada pela mania especulativa de corretores e financistas empenhados em conseguir grandes ganhos a partir de seu acesso ao dinheiro estrangeiro que inundou os EUA na última década. Enormes volumes hipotecários foram agressivamente oferecidos e vendidos a milhões de pessoas que, em condições normais não teriam condições de contratá-los, e a taxas de juros ridiculamente baixas, mas posteriormente reajustáveis, para tirar mais dinheiro dos proprietários das casas.


Como foi possível que as hipotecas subprime degenerassem em um problema de tais dimensões?


Porque os ativos financeiros passaram então a serem ''securitizados'': aqueles que haviam gerado as hipotecas passaram a misturá-las com outros ativos em complexos produtos derivados chamados ''obrigações de dívida colateralizada'' (CDO, na sigla em inglês). Isso não foi difícil pois trabalhavam com diferentes tipos de intermediários que, conhecedores do risco, se desfaziam destes títulos o mais rapidamente possível, passando-os a outros bancos e investidores institucionais. Estas instituições, por sua vez, se desfaziam desses produtos passando-os a outros bancos e instituições financeiras estrangeiras.


Quando aumentaram as taxas de juro dos empréstimos subprime, das hipotecas variáveis e de outros empréstimos imobiliários, o jogo chegou ao fim. Há cerca de 6 milhões de hipotecas subprime, das quais 40% estarão inadimplentes nos próximos dois anos, segundo estimativa de Soros.


A elas deve-se juntar outras 5 milhões que estarão na mesma situação nos próximos 7 anos, derivados das taxas de juros hipotecários variáveis e de outros ''empréstimos flexíveis''. Mas os títulos, cujo valor se conta por trilhões de dólares, já se infiltrou como um vírus no sistema financeiro global. O gigantesco sistema circulatório do capitalismo global foi fatalmente infectado.


Mas, como os titãs de Wall Street puderam desabar como um castelo de cartas?


O que acontecem com Lehman Brothers, Merrill Lynch, Fannie Mae, Freddie Mac e Bear Stearns foi, simplesmente, que as perdas representadas por estes títulos tóxicos rebaixaram muito suas reservas, o que levou à sua queda. E cairão mais, provavelmente, quando seus livros de contabilidade, nos quais agora estes títulos estão registrados na coluna Haver, forem corrigidos para refletir o atual valor desses ativos. E muitos outros seguirão o mesmo caminho, na medida em que forem ficando expostas outras operações especulativas, como as centradas nos cartões de crédito e nas diferentes variedades de seguros contra riscos. A AIG caiu devido à sua gigantesca exposição na área não-regulada dos contratos de proteção creditícia derivada (credit default swaps), uns derivados financeiros que permitiam aos investidores apostar dinheiro na possibilidade das empresas não poderem pagar seus empréstimos. Tais apostas sobre inadimplência creditícia representam agora um mercado de 45 trilhões de dólares, um mercado, como disse, fora de qualquer regulação. A ciclópica dimensão dos ativos que poderiam ser prejudicados no caso do colapso da AIG foi o que moveu o governo de Washington a mudar de idéia e intervir para resgatá-lo, logo após ter deixado a Lehman Brothers quebrar.


O que vai acontecer agora?


Pode-se dizer que haverá mais bancarrotas e mais nacionalizações e intervenções públicas, com as instituições e os bancos estrangeiros desempenhando um papel auxiliar do governo dos EUA. Que o colapso de Wall Street continuará e vai prolongar a recessão estadunidense. E que essa recessão nos EUA vai contaminar a Ásia e o resto do mundo, que também sofrerá uma recessão, senão algo pior. A razão disto é que o principal mercado exterior da China são os EUA e que a China, por sua vez, importa matérias primas e bens intermediários - que usa em suas exportações para os EUA - do Japão, Coréia e do Sudeste asiático. A globalização tornou impossível o ''descolamento''. Os EUA, a China e o leste asiático andam agora como três prisioneiros presos a uma mesma corrente.


Em suma?


A queda de Wall Street se deve não só à ganância e à falta de regulação estatal de um setor hiperativo. O colapso de Wall Street tem suas raízes na crise de superprodução que foi a praga do capitalismo global desde meados da década de 1970. A financeirização do investimento foi uma das vias de escape para sair da estagnação, sendo as outras duas a reestruturação neoliberal e a globalização. Como a reestruturação neoliberal e a globalização significaram um alívio pequeno para a estagnação, a financeirização pareceu atraente como mecanismo de restauração da rentabilidade. Mas o que agora ficou demonstrado é que a financeirização é uma rota perigosa, que leva à formação de bolhas especulativas, capazes de oferecer uma efêmera prosperidade a uns quantos, mas que terminam no colapso empresarial e na recessão da economia real.


As questões chaves são: Quão profunda e duradoura será esta recessão? A economia dos EUA vai precisar gerar outra bolha especulativa para sair desta recessão? E se for este o caso, onde se formará esta bolha? Alguns dizem que a próxima bolha surgirá no complexo militar-industrial ou no ''capitalismo do desastre'' sobre o qual escreve Naomi Klein. Mas isto é farinha de outro saco.

 A versão espanhola foi publicada em  http://www.sinpermiso.info/.

 Traduzido do espanhol por José Carlos Ruy.

 Fonte

 http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=44794

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